Revolução Industrial





A Revolução Industrial: O frenesi de uma nova sociedade.  

Aline Gonçalves e Marcos Ernane da Silva

            A pintura “chuva, vapor e velocidade” de Joseph Turner de 1844 ilustra um novo modo de vida já consolidado na Inglaterra e que englobava vários países no século XIX.
A locomotiva a vapor, fonte de inspiração para o artista foi fruto desse novo modo de vida, resultante da Revolução Industrial que introduziu a velocidade, bem como outras inovações tecnológicas que modificaram a percepção do homem. 
A história do capitalismo caracteriza-se pela aceleração do ritmo de vida das pessoas depois de vencidas as barreiras espaciais, ou seja, houve uma compressão dos nossos mundos espacial e temporal.
            No feudalismo cada feudo tinha seu ritmo de vida, um cotidiano organizado dentro das limitações espaciais, o espaço exterior era mal compreendido, habitado por figuras fantásticas provenientes do mito e da imaginação. Na Renascença as viagens além mar, o contato com os nativos, as invenções, enfim todo este contexto propiciou uma ampliação do mundo e esse conhecimento foi absorvido e representado. 
Os pensadores iluministas viam na “produção do espaço” como um fenômeno econômico e político. As mudanças ocorridas em um espaço afetam a lucratividade da atividade econômica levando, com isso, há uma redistribuição de riqueza e poder. As pessoas interagem em um espaço e para os planos do iluminismo não haveria uma política do espaço independente das relações sociais nele estabelecidas.
O conceito Revolução Industrial conglomera, portanto, um processo de transformações radicais nas estruturas sociais e econômicas iniciadas na Inglaterra na metade do século XVIII e que se expandiram mundialmente. Tais mudanças resultaram em um novo modo de pensar, alteraram a relação tempo/espaço, homem e trabalho, bem como as relações sociais de grande parte da humanidade. O próprio nome revolução justifica-se em função dessa enorme influência sobre a estrutura da sociedade.
Tal quadro foi amplamente analisado pelo Historiador HOBSBAWM que nos diz: “A Revolução Industrial assinala a mais radical transformação da vida humana já registrada em documentos escritos. Durante um breve período, ela coincidiu com a história de um único país, a Grã Bretanha[1].
As mudanças operadas na Inglaterra iniciaram-se no período de transição do mundo pré-capitalista para o mundo capitalista, quando ocorreu o cercamento dos campos comuns e o desenvolvimento da produção manufatureira.
 A Inglaterra atingiu no século XVI esse desenvolvimento em parte, porque foi favorecida pela monarquia absolutista. Esta unificou o país, afastou a nobreza, confiscou bens da Igreja Católica, criou a Anglicana, assim como disputou os domínios coloniais com os espanhóis.   Tais realizações agradaram a burguesia.  A Inglaterra também se beneficiou com o comércio com Portugal e, por conseguinte com ouro brasileiro. Calcula-se que metade deste acabou no Banco da Inglaterra e financiou obras estruturais como: estradas portos e canais. Todavia, a base do processo industrial está na Revolução Inglesa do século XVII. A burguesia inglesa venceu a monarquia, conquistou os mercados mundiais e transformou definitivamente a estrutura agrária.
Houve uma grande concentração de capitais o que possibilitou o pioneirismo inglês no processo industrial. “Foi uma das maiores transformações da história: em cerca de cem anos a Europa de sítios, rendeiros e artesãos tornou-se uma Europa de cidades abertamente industriais. Os utensílios mecânicos simples foram substituídos por máquinas; a lojinha do artífice pela fábrica. O vapor e a eletricidade suplantaram as fontes tradicionais de energia- água, vento e músculo[2].”
No que se refere ao aspecto cultural do século XVIII, o movimento cultural já mencionado e se define na Europa é o Iluminismo. O século das luzes pretendia atualizar conceitos, leis e técnicas, objetivando atingir maior eficácia na ordem social. A concepção de progresso surge como um meio eficaz para trazer felicidade às pessoas. Neste momento onde iluminar significa esclarecer, tudo pode ser explicado pela razão e pela ciência, noção que se consolidou com a publicação da Enciclopédia em 1751 na França pelos filósofos D’Alembert, Diderot e Voltaire. A Enciclopédia pretendia conter uma síntese dos conhecimentos existentes e divulgá-los.  Essa transmissão era se restringia a conhecimentos científicos, como também abordava conhecimentos políticos. O que trouxe alguns dissabores entre as autoridades civis e eclesiásticas, sendo mesmo proibida para seu último volume circular em 1766. 
Ora, até 1830 tal processo ficou restrito a Inglaterra, porém a partir daí ganhou força e um ímpeto que o fez expandir.
Dentre os avanços técnicos da época estavam a lançadeira volante de John Kay que aumentava a capacidade de tecer. Seguidamente surgiram teares cada vez mais eficientes. James Watt aperfeiçoou a máquina a vapor, chegou a maquina de movimento duplo, com biela e manivela, que transformava o movimento linear do pistão em circular, adaptando-se ao tear.
Portanto, uma nova forma de organização do trabalho substituiu aos antigos “modos de fazer artesanais”. Devido aos cercamento dos campos pela gentry aconteceu a proletarização, aumentando mão-de-obra para os centros industriais. Os camponeses deixaram de ser agricultores e artesãos. 
Todavia, os problemas sociais decorrentes deste processo não tardaram a chegar e um traço marcante foi o crescimento da população urbana e a exploração do trabalho.
Com o crescimento da oferta de mão obra, logo veio a exploração como podemos perceber neste trecho: “O juiz do condado de Broughton, presidindo uma reunião na prefeitura de Nottingham (Inglaterra), em 14 de janeiro de 1860, declarou que naquela parte população empregada nas fábricas de renda da cidade, reinavam os sofrimentos e privações em grau desconhecido no resto do mundo civilizado (...)às duas, três e quatro da manhã, as crianças de nove a dez anos são arrancadas de camas imundas e obrigadas a trabalhar até às 10,11 12 horas da noite, para ganhar o indispensável à mera sobrevivência. Com isso, seus membros se atrofiam, suas faces se tornam lívidas (...)[3].
O modo de confecção artesanal, familiar trazia consigo o conhecimento acumulado e transmitido através das gerações e comportava uma hierarquia muito peculiar. Na produção doméstica e familiar do mundo pré-capitalista, os artesãos eram donos dos meios de produção: oficinas, ferramentas e matérias-primas. No meio de produção capitalista os trabalhadores viam-se desvinculados do processo de fabricação como um todo, sabendo apenas o necessário para executar sua função específica, além disso, os trabalhadores sem meios de produção produziam por meio de pagamento diário (jornaleiros).  
Do desmantelamento das estruturas pré-capitalistas emergiu uma sociedade dividida em dois grupos: a burguesia proprietária dos meios de produção e o proletariado que vendia sua força de trabalho em troca de salários miseráveis com horas de trabalho exaustivas, além de condições de trabalho cada vez mais desumanas. A extração do carvão (principal fonte de energia da primeira fase da Revolução Industrial) nas minas constituía em um trabalho penoso e freqüentemente ocorriam acidentes fatais, sobretudo com mulheres e crianças.“Mais desagradável ainda do que o próprio advento da fábrica, foram às condições humanas que esse advento acarretou[4]...”
Sendo assim, a relação com do homem com o bem produzido também foi severamente afetada.  O trabalhador já não é dono do que produz, o produto é destinado ao patrão proprietário dos meios de produção. Segundo Marx este processo chamava-se alienação e conduzia o operário a perda da dignidade, marginalizando-o na sociedade. Outrora, o artesão independente era proprietário da mercadoria produzida e podia se dispor dela, mas as máquinas, rápidas regulares e precisas substituem o trabalho a mão.
Adjunto ao desenvolvimento da maquinofatura, houve uma concentração de industrias em torno de fontes de energia, como o carvão. Desta forma tal concentração foi também humana e mudou a relação dos homens entre si.
Em nome da ideologia que santificava o trabalho, suprimiu-se, inclusive, o domingo como dia de descanso semanal, bem como dia santos existentes antes da Revolução Industrial.  As crianças começavam a trabalhar aos seis anos de idade sem garantias contra acidentes, indenização ou pagamento por dias de convalescença. 
A concentração humana levou ao desenvolvimento urbano. Centros como Manchester abrigavam massas de trabalhadores em condições miseráveis.  No que tange a modificação do homem com o tempo e o espaço está o controle do ritmo de trabalho. O trabalhador deve submeter-se à disciplina da fábrica e concorrer com mulheres e crianças no emprego. Na industria têxtil elas constituíam mais da metade da massa trabalhadora.
A exploração do trabalho feminino e infantil figuravam entre as chagas propagadas pelas novas condições de trabalho conseqüentemente a consolidação do capitalismo, ordem que fazia prosperar a burguesia. 
Logo, porém, vieram as primeiras formas de protesto por parte da classe operária.  Foi árdua a luta dos trabalhadores europeus por uma vida mais digna. A primeira conhecida como Ludismo termo que se aplicou ao fato dos trabalhadores destruírem as maquinas e instalações industriais, cujo nome de destaque é Ned Ludd. Fortemente reprimido, pode-se dizer que o Ludismo foi eficaz na medida em que forçosamente as autoridades e industriais a tiveram que reconhecer as reivindicações do nascente operariado. Ao ludismo seguiu-se o Cartismo que se origina na carta do povo de 1837 publicada pela Associação dos Operários. A Carta foi bastante reveladora na medida em que avançou nas reivindicações do operariado, que desta vez tinham um caráter mais político. Em 1840 o cartismo resumia-se a greves, comícios, passeatas. 
A ação sindical foi fortalecida após os trabalhadores terem as reivindicações aceitas pelo parlamento e daí fortaleceu-se a ação sindical. “Desde o seu nascimento, os sindicatos mostraram-se fundamentais para o avanço das lutas operárias; E sua evolução não limitou-se a nação inglesa[5].” 
 Em meados do século XVIII a Inglaterra assegura sua soberania sobre a Índia em 1757, enquanto a França se firma na Indochina, e a Holanda nas Índias Orientais (Indonésia). Os políticos, os homens de negócio e os governantes europeus encaravam o Imperialismo como um fator necessário à prosperidade econômica e como uma forma de diminuir os graves problemas sociais de seus países.
Os produtos da Revolução Industrial estão de tal forma arraigados no nosso cotidiano que custa entender uma vida onde as cidades não tinham.

BIBLIOGRAFIA
                          
ANTUNES, Ricardo C. O que é o Sindicalismo. 3 ed. São Paulo, brasiliense, 1980, p. 23.
DAILY TELEGRAPH, Londres, 17 de janeiro de 1960. In: MARX, Karl. O Capital. 3
ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975, Livro Primeiro, v,1 p. 275-6” 
HARVEY, David. A Condição pós-moderna. capítulos: 15 e 17
HENDERSON. W.O. A Revolução Industrial. São Paulo, Verbo/Edusp, 1979, p.7) 
HELBRONEER. H. A. Formação da Sociedade Econômica. Rio de Janeiro, Zahar, s/d., pp.108-9 
HOBSBAWM. E. J. Da revolução Industrial inglesa ao imperialismo. Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1983, p.13.

           


[1] HOBSBAWM. E. J. Da revolução Industrial inglesa ao imperialismo. Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1983, p.13.
[2] HENDERSON. W.O. A Revolução Industrial. São Paulo, Verbo/Edusp, 1979, p.7).
[3] DAILY TELEGRAPH, Londres, 17 de janeiro de 1960. In: MARX, Karl. O CAPITAL. 3 ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975, Livro Primeiro, v,1 p. 275-6”.
[4] HELBRONEER. H. A. Formação da Sociedade Econômica. Rio de Janeiro, Zahar, s/d., pp.108-9).
[5] ANTUNES, Ricardo C. O que é o Sindicalismo. 3 ed. São Paulo, brasiliense, 1980, p. 23.