segunda-feira, 2 de agosto de 2010

1984

Wilston é um membro do partido externo, um burocrata amargurado com sua vida indigna no presente, assim como é atormentado por tristes lembranças do passado. Ele é funcionário numa repartição em uma Londres fictícia, onde as notícias são apagadas, distorcidas e reescritas antesde chegar até os cidadãos da Oceania.
Ele é um editor manipulador dos arquivos, afim de que as pessoas não tenham a noção de como era a vida antes da Revolução. Para dificultar a memória dos cidadãos o Grande Irmão (personificação do poder que concentra a adoração de todos) e os seus camaradas criaram um novo idioma: a Novilíngua. Somente as informações oficiais são disponíveis aos cidadãos, desta forma ninguém sabe ao certo o que acontece nas trincheiras da guerra, bem como, nenhuma informação prejudicial aos olhos dos líderes do Partido passa sem antes ser reescrita.
Nenhum livro é publicado sem ser riscado e reescrito na Oceania, bem como toda a História pregressa do país é modificada.
Há o controle total do Estado sobre a vida das pessoas. Tal controle só é possível, porque elas são vigiadas o tempo todo por escutas, informantes e a temida e onipresente Teletela instalada nas casas. Ela além de dar ordens, oprime e coíbe as ações dos moradores. Sempre acontecem desaparecimentos de pessoas sem explicação, paira no ar o terror de ser acusado de inimigo do Regime. As pessoas receiam tudo e todos, e se policiam para não falar algo comprometedor. Falam e fazem o que não pensam: é o duplipensar.
Desejos, pensamentos, ambições, amor, amizade, sexo, a escolha do parceiro também são assuntos pertinentes ao Partido, liderado pelo adorado Grande Irmão.A vaidade também é desestimulada nas mulheres, somente o culto a personificação do poder é incentivada ao último. A cara do Grande Irmão, bem como a de muitos ditadores no mundo está estampada por toda parte.
A Oceania é um país com graves problemas estruturais, a população vive a escassez de gêneros e inanição, mas a imagem de prosperidade predomina. A nação vive em constante guerra com um de seus vizinhos Eurásia e Lestásia. O inimigo se alterna de tempos em tempos, ora o Grande Irmão é aliado da Eurásia, ora é opositor. Não por acaso o país está envolvido nessa guerra sem fim. A guerra alimenta um nacionalismo exacerbado que aliena as massas.
Deste modo, os cidadãos da Oceania tem a falsa idéia de que estão vivendo numa época ótima para o país e que antes a vida era insuportável. Frases enfáticas são utilizadas o tempo todo pela publicidade oficial.
O gin alimenta Wilston que vive angustiado porque sabe a verdade. É um homem acabado com dores em sua perna ulcerada, esfomeado e atormentado por lembranças desconexas do passado. Afinal,  as liberdades individuais morreram, nenhum sonho pessoal é válido, nada é possível em Londres além de trabalhar e cultuar o Grande Irmão.
Nas reuniões regulares para cultuar o “salvador da pátria” o grande opositor do Regime é insultado, enquanto sua imagem aparece num grande telão. Ele é o inimigo número um a quem os camaradas devem odiar e descarregar todas suas insatisfações.
Numa destas reuniões Wilston repara numa moça, uma das militantes mais inflamadas. Ele nem imagina que Júlia consegue driblar a vigilância e viver uma vida dupla, na qual ele será inserido. Nela Julia consegue se libertar da lavagem cerebral do Grande Irmão.
Em um refúgio no subúrbio, Wilston tem contato com essa realidade. Ele e Júlia comem alimentos contrabandeados, bebem vinho e fazem sexo. Juntos escapam da escassez generalizada de certos produtos em que vive a Oceania, uma Cuba estilizada.
Eles vivem uma história de amor proibido, todavia, algo maior os une. A vontade de mudar a realidade opressora que vivenciam. A esperança os move até O’Brien que parece compactuar com as idéias do casal e que tem uma posição privilegiada no Partido. O’Brien passa a ser o caminho para a contra revolução.
Enquanto isso, a massa de proletários “os proles” vivem mergulhados na carestia e ameaçada por bombas do inimigo que caem, destroem, mutilam e matam nas ruas de seus guetos em Londres.
Devido aos anos passados desde a Revolução, pouca gente se lembra dos costumes e da vida antes. As cidades estão desconfiguradas e só um quadro na parede do refúgio de Wiston e Júlia faz lembrar o que era uma Igreja cristã.
As igrejas cristãs deixaram de existir “numa breve alusão ao que aconteceu aos tempos destruídos ou desfigurados em diversos países após a instalação do comunismo”
O sonho de fazer a contra revolução e a esperança que sacramenta o amor entre Júlia e Wilston serão sua ruína.O’Brien os levará rumo à prisão, a tortura e a um terrível dilema que dilacerará o amor que sentem. O fim do livro dá o tom do que é viver sob regimes totalitários como um todo. Um livro apaixonante, a frente de seu tempo e que nos faz refletir sobre as mudanças atuais no mundo e no Brasil e temer sim o domínio da foice e do martelo.

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